sábado, 27 de fevereiro de 2010

Podres Doces

Uma velha senhora anda na direção duma colina. Ela carrega apenas uma cesta de doces. Era velha, mas era possível deduzir que foi jovem e linda muito tempo atrás. Um tempo lembrado apenas quando faz o caminho para a colina. É um caminho já conhecido e percorrido muitas e muitas vezes. Já fez um tempo que não ia até aquela casa. Casa que parecia envelhecer junto dela, pois cada vez que visitava-a, pedaços e mais pedaços caíam duramente. Podia-se ouvir o choque há distância. Era o que diziam os moradores. A velha nunca os ouviu, pois a casa nunca despedaçava quando ela estava longe. Apenas quando ela visitava-a. Estranhamente, apenas quando a velha estava por perto.

Olhou para o alto da colina e percebeu que a casa estava próxima. Foi o bastante para já ouvir-se os tremores da mesma. Uma irritação. A casa era de uma cor que não se sabia ao certo. Havia o verde do mofo, havia o preto da morte, havia o cinza das cinzas. Era uma cor podre e mortífera. À porta, muitos cestos iguais o que a velha carregava. Podia-se dizer que os doces estavam podres devido ação do tempo, pois há muito que estavam ali. Mas os velhos e podres doces obtiveram a mesma cor mortal da casa. Pareciam ter absorvido a doença que ali parecia habitar.

Bateu à porta. E um som reproduzindo palavras respondeu:
- És tu novamente, assim deduzo, ó velha memória!
Era um som e não uma voz. Aquele som grave e agudo, amargo e azedo, não era uma voz, já não podia mais ser.
- Pois sim, sou aquela que lhe atormenta por vezes. Sinto-me obrigada a isso. - respondeu a velha.
- Pode deixar o que trouxe e que cheira bem aí à porta. Não desejo as coisas feitas por quem desconheço. - disse o som.
- Perdão, novamente estás equivocado. Conhecemo-nos há muito. Se ao menos colocasse os olhos perante mim, talvez pudesse lembrar.
- O que há muito conheço, velha culpada, foi-se junto com minha sanidade.
- Talvez se eu lhe disser meu nome...
- Poupa teu fôlego. Vá antes que a casa desabe sobre teu corpo, mente e alma.
- Se assim deseja. Mas gostaria de perguntar-lhe, apenas responda-me isso: Não sentes nada ao ouvir minha voz? Não sentes nada com minhas visitas? Não lhe toca o coração minhas atitudes?
- Devo dizer-lhe que sim. Há vários sentimentos. É notavel que algo ocorre quando passa o teu fantasma por aqui. Não há como negar. Sim. Há muitos sentimentos, mas nenhum deles se chama Amor.

E a velha deixou mais um cesto de doces à porta. Sem lágrimas, sem desespero, sem o cesto de doces.
A velha voltou sem nada, novamente.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Escuridão e Assombração

Eu sou a Noite, a Sombra, a Escuridão.

Não passa por tuas mentes fracas, que sou também o Sono. Sou a Tranquilidade. Sou o apagar das luzes, o estopim dos sonhos. É o meu pólen de papoula que vos da o cansaço. A fadiga que entorpece a realidade. Eu sou o Ébano.

Já tentei estar junto ao Sol. Mas os iluminados não me aceitavam. Eu era a antítese das cores. Era feio perante as cores do Dia. Sol, sempre foi um amigo fiel. Porém, amante de seus amantes. Disse-me então: "Preciso descansar um bocado. Durante meu sono, toma conta deles por mim, pois?"
Aceitei. De bom agrado. Ganhei também, uma lanterna de meu amigo Sol. Lua, assim a chamei. Não tão forte como o Sol, mas era linda a tua luz prata contrastando comigo.

Então começou o que chamei de "Insônia". Fanáticos pela luz dourada do Sol, não dormiam mais. Estavam contaminados. Era a Doença Dourada. Sem descansar e nem sonhar, estes caçavam outras formas de se alimentarem da luz dourada durante o meu turno de guarda. Encontraram, mas não era satisfatória aquela luz artificial. Sem sonhos e irritados, começaram algumas batalhas, que logo tornaram-se guerras. Onde foi parar o Sonho? Há muito sente-se fraca sua presença. Nem a luz prata de Lua era suficiente. Erroneamente, fui culpado. Apontaram o dedo para mim e diziam "Culpada seja a Noite! Monótona, morta! Queremos a luz! Queremos a iluminação eterna!". A fúria continuou e apenas pude lamentar. Vidas foram destruídas. Almas partiram para o além cósmico da galáxia.

As mais perturbadas, tornaram-se fantasmas. Certas horas de meu reinado, elas retornam. Assombrando-me. Suspiram à Noite: "Culpa tua...culpa tua...culpa tua". Por vezes o tormento faz-me chorar. Por vezes, faz-me tremer. A esses corpos celestes mortos, nomeei de Estrelas.

Por muito elas machucaram-me. Mas dei-me conta.

Estrelas brilham, só para lembrar-me que já morreram.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Luz e Morte

Eu fui o Sol.

Eu fui a luz. Destinado a levar iluminação aos cantos mais sombrios de minha galáxia. Porém, fui sábio o bastante para deixar as sombras cuidarem da noite. Assim, os meus iluminados sentiriam a falta de mim. Tinha-os por perto, sentia-os próximos, mas não os consumia. Era o bastante.

Eu fui o Sol.

Deixei de sê-lo. Em que momento exato, não saberia dizer. Descobri que durante as horas sombrias, um vazio espalhava-se. E a prece daqueles ingratos, era de luz eterna. Iluminação a todo momento. Mas a minha energia tem fim. Pouco se importavam. Em nome da iluminação, desceram lâminas contra si mesmos. Pintaram em vão, a escuridão. Beberam o sangue clamando por vinho. Não eram pacientes de saber que eu necessitava de sono e sonhos. Não bastava a eles, saber que minha volta na alvorada seria triunfal. Durante as horas sombrias, procuravam outras luzes. Outros confortos. Eles não sabiam mais sonhar. Não sabiam descansar.

Eu fui o Sol.

Suicídio foi o que me restou. Com a tristeza a flor de minha atmosfera, negativei-me. Esmoreci. Mas não foi o bastante. Vê-los em pleno caos, em desejo de consumir uns aos outros era de uma tristeza maior. Queria dizima-los. Apagar a vista deprimente. E para isso, teria de engolir os que amei. Tornei-me o buraco negro. E nada gira em torno de mim. Não são mais atraídos por vontade própria. São consumidos por obrigação.

Eu fui o Sol

Eu sou a Morte de tudo.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Cerimônia

É por isso que os eventos me irritam e enervam-me. Tudo isso mostra-se repetidamente diferente. É difícil tomar uma decisão, mas logo terá de se tomar o partido. Tomar a posição de mártir e arremessar-se à alguma chama mal descrita. E consequências que venham após. Não penso nos seres próximos. Eu vou derruba-los, sem demonstrar perdão. O céu sabe que tem que ser desta vez. Seja em prantos. Seja suspenso. Mas visualize-me comece assistindo. Assistindo para sempre. O amor crescendo. Será minha partida, minha despedida. Os sons de uma divisão do prazer anunciarão que a cerimônia começa. E quando a divisão do prazer chegar ao fim, inicia-se a nova ordem. Venha o que vier, isto foi, está e será decidido...algum dia.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O H(h)omem

O Homem é forte! Faça chuva, faça sol! Sem guarda-chuva, sem guarda-sol! Lá vem o Homem decidido! Passos firmes, rosto firme! Ele tem as certezas nas mãos firmes! O Homem assegura os inseguros que há segurança! O Homem é fascinante! O Homem é cativante! Ele tem uma montanha a escalar! Ele se propõe a alcançar o topo e de lá! Cravar tua força! O Homem! Sem pensar muito! Toma a decisão! Esse é o Homem! E ele tem toda as certezas nas mãos firmes! E os passos firmes! Passos de Homem! A montanha logo será vencida! E o Homem tornará a ser vitorioso! Com todo o esforço! E feridas não o ferem! E o frio não o esfria! E nem o calor o derrete! Tudo por isto! Vejam todos! Lá está Ele! O Homem! Cravando toda tua magistral vitória! Esse é o Homem! O Homem venceu a montanha! Agora o Homem vê tudo lá de cima e compreende! Ele compreende tudo! ele compreende tudo. ele compreende que ele é o homem. uma ferida dói. sente-se um frio. a mente derreter. a perna cedem. o corpo treme. a altura da Montanha o assusta. não pode mover-se dali. já não há espectadores pós-vitória. o vencedor torna-se vencido. o homem perde para a Montanha. as certezas tornam-se incertezas. assegura-se de que há insegurança. o homem pensa muito agora. o homem é deprimente. o homem é irritante. esse é o homem fraco, o homem compreendendo sua fraqueza. sua solidão. esse é o homem. retorna-se um derrotado. se propõe a ficar no topo e não descer de lá, pois viu o tudo agora tem medo. não observem todos, o homem fraco. não nos fascina e nem cativa e nem merece os aplausos. procuremos outro que vença a Montanha e que não se abale com o que há lá em cima. abandonemos esse homem fraco. não nos serve de nada. homem.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Som do Silêncio

Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio Vazio

English Boy - 80's (Pt.III)

Exorcism

Night is complete. This is the place where darkness can get even more dark. With the tie and the shoes, the fancy pants. I'm the running demon. I push against the people. I push against an old lady. A young boy. A middle age man-of-family. I'm fucking pissed off. I'm fucking tired. I'm pure energy. The thin rain tastes like oil. It might be oil. Hard steps on the ground and the water (oil) splashes around my feet. I finally arrived. I'm in front of The Church. I say to the man behind the bars that I want to see the priest, that I want to be exorcised. That I want to taste the holy water. I pay to him. I'm inside. This is the place where darkened darkness can get even more dark. But with some colorful lights. I see'em. Angels holding holy instruments. Every movement they make, angel dust falls behind. Their music invades my insides. The demon shakes a little. Then the priest starts the sermon. The demon crumbles. It wants to run, to be outside the body. We fight. We shake. We dance. And I can shortly see that I am no the only one. Demons are dancing. The Church become hell. Then, the holy water slips through my lips, then spreads all over my body.
Oh, Thank You God! I'm Exorcised in Hell!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

English Boy - 80's (Pt.II)

Outside

A door closing behind. The sound of the past. The forgettable past. I can't look behind, I can't face my past. But memories are silent. The white hall remains fresh inside the nihilist brain. Beating on the wounded heart. And it make a contrast with the black, dark and dirt streets. Soon, the white (intended to foolish) hall will be consumed. And the air won't be conditioned. And the lungs will faint. So I run. This is the place where darkness can't get even more dark. So I run. And the lungs scream for mercy. Totally in vain. Dry air. I could stand still. I could. But we could dance. Dance to the radio. Run to the dance. Wash the demons. Wash the coal and steel. Wash it on someones else body. So I run. Looking for a church, a priest and the holly water. I want to be fucking exorcised.

(cont.)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

English Boy - 80's

Começo aqui uma curta série baseada na década de 80 na Inglaterra. Espero gostar disso num futuro próximo.

Inside

So, It's Friday. The night seems to be falling soon. Can't see here locked in the fucking office. But time gives it all away. Time always give all away. The industrial site here in Manchester looks pretty dirt. Just want to get the fuck out of this place. But can't deny it brings to me the benefice of doubt. Are we, the young, ready to take this pieces of coal? Because, it's getting heavy. The air, the steel, the pace. We cough it out all the time. Yet there's still this appeal. The appeal of pain. Clock stopped at six. Time to go outside.

Continuo depois.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Suspenso

Vivo na cidade suspensa e todos andam com a corda no pescoço.
Basta um passo em falso, quebra de regra, errônea exceção.
Uma escorregada para o chão abrir-se embaixo dos pés.
Vejo muitos pendurados, a corda roçando a garganta.
A corda num flerte perigoso, ainda assim, tenso.
A cidade suspensa no ar e o chão de cristal.
Basta um passo mais firme e, rachaduras.
E é o bastante para suspender-se.
A corda no pescoço apertar.
E a vida vêm a sufocar.
E a voz chega falhar.
Palavra faltará.
Perde-se voz.
A corda.
Acorda.
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sábado, 6 de fevereiro de 2010

Importação

Eu prometi continuar sem me importar. Não me importo. Não te importe, peço.
Se tudo têm de ser aceito, nada seria a luta. Luta que é humana, vem de dentro dos confins do sentimento. Um trem sem trilho. 1cm do chão. Voando!

Continue a registrar, continue a registrar. Sem ao menos me importar.