terça-feira, 13 de julho de 2010

Conto - "Matilha Assassina"

Pediram e aqui vai a primeira parte do meu conto.

Sou investigador particular. E tenho apenas um cliente. Meu cliente tem um gosto peculiar pelo inusitado, inexplorado, inexplicável. Esse gosto eu definiria como um desespero pela anormalidade. A rotina consumiu parte da sanidade e contato social do ser. Com as investigações e uma certa habilidade com a escrita, consigo escrever boas histórias para a coluna de uma famosa revista independente. Histórias como a que segue logo abaixo.

A história que se segue, pode ser um tanto fantasiosa. Até o narrador mais divino não poderia acreditar em tal fato. Sem dúvida é um evento aquem da normalidade. Por esse motivo ele será a fabula desta hora.
Conhecemos um tanto de contos que envolvem animais. Temos toda superstição que envolve o gato preto e o azar. Mas não me lembro de algum conto envolvendo os meigos cães, amigos do homem, com o macabro. Curiosamente nos meus registros encontrei um artigo de jornal sobre a morte de um jovem estudante universitário. Morto a mordidas de cachorro. A descrição foi o que mais chamou atenção no caso. Haviam mordidas de vários tipos no corpo do garoto, o que levou-se a concluir que não foi apenas um cachorro que promovera o ataque, mas sim, uma matilha. Várias raças foram identificadas. Desde poodles até mordidas de são bernardo reduziram uma vida a ossos e pedaços da carne pareciam ter sido arremessados para longe. Sim, não houve consumo da carne, apenas o crime. Parecia intencional. Procurei saber mais sobre o crime e decidi investigar as testemunhas. A perversidade humana poderia ser motivo para o crime? Levando-se em conta o histórico de cães, é bem possível que sim. O que me intrigou mais, foi o ataque em grupo.
Algumas horas depois e com algumas perguntas, tracei o perfil do garoto. Nunca teve nenhum sinal de perversidade. Amoroso, gentil. O único contraponto era o de ser um pouco recluso, reservado. Havia a namorada e as ex namoradas do jovem. Disseram que ele não possuia fantasias sexuais e nem demonstrava sinais de raiva enrustida. Na verdade, ele demonstrava uma certa tristeza e melancolia. Uma informação me chamou ainda mais atenção: o garoto tinha um cachorro. Um maltês pequenino e branco como a neve. Seu nome era muito sugestivo também. Snow. Os que conheciam e frequentavam a residencia do estudante sempre falaram que ele e o cão eram muito próximos. Quando estavam juntos havia o censo de cumplicidade e respeito. O cão nunca agredia ninguém gratuitamente.
A minha busca por algo inusitado diminuia com essas informações. Entretanto, quem esta habituado a fatos estranhos, sabe que onde há muita normalidade, o acontecimento esta relacionado com o algo que foge a compreensão do ser humano. A investigação iria continuar e encontraria os fragmentos que levariam ao fator determinante. Assim, deixei de lado o objetivo final para focar em outras questões. Que lugares frequentava o jovem estudante? Será que tinha uma vida secreta? Será que sua morte fora assassinato encomendado? Que fatores levariam um ser humano a ser brutalmente atacado pelos seus, assim ditos, melhores amigos?
Quanto a primeira e segunda perguntas, as respostas foram encontradas facilmente. E foram um tanto decepcionantes. O garoto vivia numa rotina. Acordava, estudava e voltava para casa. Durante as noites, dava um passeio com o pequeno Snow e, claro, descansava para o outro dia. Talvez a rotina não pudesse responder por agora os motivos do crime. Crime? Será que ainda cabe um acidente na questão? Deveria levar em conta? Sim. Toda possibilidade é válida. A questão da morte ser mandatória, também parece esvair-se mediante os elogios e círculos de amizade que envolviam o jovem. A maioria das pessoas apreciavam a compania. Não me parecia haver inimigos possíveis. Haviam uns e outros que não gostavam de certa postura, coisa comum. Nenhum deles seria capaz de arquitetar um plano macabro com matilhas de diferentes raças de cães. Durante uma das entrevistas investigativas com uma amiga do rapaz, tive outra possibilidade de encontrar mais informações por conta. "Não se sabia muito sobre a família dele, ele não dizia muito sobre a família, não". Então resolvi mudar o foco, já que continha muitas informações do cotidiano e da vida presente da vítima. Resolvi investigar o passado, até então desconhecido.